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A SANTA CRUZ
A história está dividida em antes de Cristo e depois de Cristo. Podemos dizer que há uma vida antes de Cristo e outra vida depois de Cristo. Existe o sofrimento aC e o sofrimento dC. Em Jesus, há uma maneira nova de entender o sofrimento e de superá-lo. A vitória de Nosso Senhor deu-se precisamente na Cruz e a nossa vitória também se dará pela cruz.
1. Cristo na Cruz: precisamente assim Ele se revela: “ofereço a minha vida”. Disse também: “Deus amou tanto o mundo que enviou seu Filho”, para a Cruz. E S. Paulo: “Ele me amou e se entregou por mim”. Deus todo-poderoso na Cruz por nós. Poderia salvar o mundo de muitíssimos modos mais suaves. Poderia tirar a liberdade de rejeitá-lo e obrigar-nos a ser santos. Poder Ele tem. Mas não é o poder que redime: é o amor! A cruz é o sinal de Deus. Amor que se entrega: “não há maior amor do que dar a vida”.
Quantas vezes nós desejaríamos que Deus se mostrasse mais fortemente. Que atingisse duramente, vencesse o mal e criasse um mundo melhor. Todas as ideologias do poder prometem isso, se justificam assim. Porém, o mundo é salvo pelo Crucificado e não por quem crucifica.
2. Nós na cruz. Ora, o sofrimento não é uma coisa extraordinária. Não há vida nesta terra sem algo de dor. Aqui não é o paraíso. Portanto, há que contar com o sofrimento presente todos os dias. Mas cabe lembrar, o sofrimento em si não santifica ninguém. O sofrimento deve servir à conversão, para percebermos que nascemos para coisas maiores e que a nossa meta principal deve ser a glória eterna junto de Deus. Devemos usar esta vida para ganhar a eternidade. Inclusive e especialmente aproveitando os sofrimentos.
Claro, podemos usar todos os meios lícitos para eliminar a dor e o sofrimento. Mas enquanto sofremos, soframos como discípulos de Jesus. Ele deu um novo valor, um novo sentido ao sofrimento. Antes não servia para nada, agora é instrumento de redenção. Dor bem entendida e bem aproveitada remove montanhas. A começar removendo entulhos de nossa alma. E há sofrimentos benditos: fazem ver coisas que não víamos antes.
A cruz de cada dia deve servir para nos unir ao sacrifício redentor de Jesus, como reparação de tantas faltas, como moderação do apetite pelo prazer, para crescer nas virtudes e como alavanca para as necessidades espirituais da Igreja e dos outros. Essa foi a grande revolução cristã: converter a dor em fecundidade. Despojou-se o diabo dessa arma e com ela se conquista a eternidade. Não porque a dor desapareça ou fique menos dolorida, mas porque Cristo deu um novo sentido e um novo valor.
No comum da vida, viver a cruz é o cumprimento exato dos nossos deveres, dos nossos horários. É levantar-se na hora, é não deixar para depois a tarefa custosa. É ter um plano de vida espiritual e levá-lo a sério. É tratar com caridade os outros, esforçar-se para perdoar e abater o orgulho ferido, não importunar os outros com caprichos, procurar aliviar o sofrimento dos demais. Às vezes, uma grande cruz será sorrir e fazer como se nada tivesse acontecido. Aliás, viver a cruz de Cristo não é somente aceitar o sofrimento, é aceitar como Nosso Senhor, de boa vontade e não reclamando ou triste. Como em tudo o mais, não só fazer, mas fazer por amor de Deus, com o amor de Deus.
Nosso Senhor disse: “se alguém quer ser meu discípulo, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. E é certo: de um modo ou de outro, temos medo de deixar entrar Cristo totalmente dentro de nós, de nos abrirmos completamente a Ele. Não tenhamos medo. Quem se doa por Ele, receberá o cêntuplo. Abramos as portas a Cristo e encontraremos a vida verdadeira. O abraço de Deus fez santa a cruz terrível, converteu um sinal de morte em sinal de vida, converteu o sinal de sofrimento em sinal de vitória. Abracemos a cruz, com Cristo, por Cristo e em Cristo. E na nossa cruz Ele estará. E com Ele estará sempre nossa vitória, alegria e paz.
Pe. Manoel Augusto Santos